quarta-feira, 11 de março de 2009

O Mito da Neutralidade

Um dos mitos mais perniciosos e malignos que praguejam a raça humana é o mito da neutralidade. Ele é um produto do ateísmo e anti-Cristianismo, pois pressupõe um cosmos de factualidade não-criada e sem sentido, de fatos brutos ou sem sentido. Porque todo ato e fato do cosmos é então sem sentido, e também sem relação com outro fato, todos os fatos são neutros.

O Absurdo da Neutralidade
A palavra “neutro” é curiosa. Ela vem do latim “neuter”, significando “nem um, nem outro”, e tem referência original ao gênero, isto é, nem macho nem fêmea. Ela ainda tem esse significado: um homem neutralizado é um eunuco, um castrado.
Ela tem agora o significado de não tomar partido e, supostamente, a lei e os tribunais são “neutros”. Isso em si mesmo é absurdo. Nenhuma lei jamais é neutra. A lei não é neutra sobre roubo, assalto, assassinato, estupro, ou perjúrio: ela é enfaticamente contra essas coisas, ou deveria ser. Novamente, nenhum tribunal ou juiz bom pode ser neutro sobre essas coisas sem destruir a justiça. Além do mais, nem a lei nem os tribunais podem ser neutros com
respeito a um homem acusado desses ou outros crimes. Antes, um bom tribunal “suspende um julgamento” pendente de testemunho. A neutralidade apresenta uma indiferença; um julgamento suspenso significa que qualquer conclusão deve ser precedida por uma análise rigorosa de evidência.
O mito da neutralidade impede a justiça porque atribui à lei e aos tribunais um caráter que está em muito conflito com a própria natureza delas. Além do mais, é dado aos tribunais o poder de falsificar casos, como a Suprema Corte dos Estados Unidos habilmente o faz. Por exemplo, ao lidar com casos educacionais, a Corte, que tinha declarado ser o humanismo uma religião, não reconhecerá que a educação humanista, isto é, nosso sistema educacional do Estado de hoje, não é religiosamente neutra. As escolas cristãs são tidas como sendo “religiosas” e “não-neutras”, mas as escolas humanistas do Estado são vistas como “neutras”.

A Maior Violação da Primeira Emenda
Há uma razão para essa cegueira deliberada. Admitir que a educação é uma tarefa inescapavelmente religiosa, e é sempre não-neutra, significa que as escolas do Estado violam a Primeira Emenda. Elas são estabelecimentos religiosos que ensinam uma religião alheia a maioria dos cidadãos, e fazem isso com fundos públicos. Poucas coisas nos Estados Unidos violam mais a
Primeira Emenda do que as escolas públicas. Desde o seu começo, a escola pública ou do Estado tem sido destrutiva da liberdade civil e, crescentemente, da fé bíblica.
Para que a Corte reconheça esse fato seria necessário uma re-direção radical da vida na América. Requereria, além disso, uma mudança radical na Corte. A Suprema Corte dos Estados Unidos se tornou o Sinédrio, o Vaticano ou o Concílio Nacional do humanismo na América. Ela é uma agência militante e fanática da religião humanista, e usa seu poder para suprimir e punir os rivais da religião Federal. As sessões da Corte constituem uma versão moderna da “guerra santa” contra o Cristianismo. Ao mesmo tempo, o mito da neutralidade tem sido usado para castrar a
teologia e as igrejas. O American Educational Trust de Washington, D.C. publicou recentemente um atlas e almanaque de John C. Kimball (The Arabs, 1983). Kimball escreve:
Os muçulmanos têm sempre crido fortemente que a religião diz respeito não somente ao que uma pessoa crê, mas o que ela faz e as inter-relações da sociedade. Diferente do pensamento cristão que vê uma clara distinção entre a dimensão secular e religiosa da vida, o pensamento muçulmano sustenta que idealmente o secular e o espiritual pertencem à mesma esfera. (p. 5).
Essa, sem dúvida, é a posição bíblica, que todas as coisas estão debaixo da lei e do governo de Deus, e qualquer divisão da vida entre o religioso e o não-religioso é falsa. Porque Deus é o Senhor e Criador de todas as coisas, não existe nenhuma esfera da vida e pensamento fora de Sua jurisdição, governo e lei. Sustentar que existe é negar Deus e afirmar o politeísmo. E isso
é precisamente o que muitos teólogos têm feito. A ressurgência do Islamismo é devido ao reavivamento dessa premissa.

O Botão de Van Til
O mito da neutralidade é mais compatível com a natureza caída do homem. O dr. Cornelius Van Til apontou que, se houvesse um botão em todo o universo, o qual, se apertado, daria ao homem uma pequena esfera de experiência fora de Deus e em liberdade de Deus, o homem caído sempre estaria com o seu dedo nesse botão. O fato trágico é que muitos pastores assumem a existência de tal botão! Eles sustentam que a maior parte da vida está fora da lei de Deus, e até mesmo negam a validade da lei de Deus. Eles crêem de fato que o homem deve ser salvo na igreja, mas pode ser não-salvo fora da igreja na educação, política, economia e todas as outras coisas. Eles literalmente assumem que a maior parte do mundo é por natureza uma esfera ímpia, e assim deve permanecer.

O Épico de Gilgamesh dos babilônios sustentava que apenas uma pequena área da vida é a preocupação dos homens, que são inescapavelmente ignorantes do bem e do mal porque os deuses “retém em suas próprias mãos” o conhecimento da maioria das coisas sublimes. Essa era claramente uma expressão de cinismo religioso. A teologia moderna vai mais adiante: ela vê
Deus como indiferente para a maior parte da vida, e limita a província do sagrado a uma pequena esfera. Na Babilônia, as leis de “justiça” vinham do rei, não dos deuses. Na civilização Ocidental moderna, as leis de “justiça” vêm do homem, do Estado: Babilônia a Grande está em processo de construção.

Phillip Lee Ralph, em The Renaissance in Perspective (1973), disse: “Juntamente com outros pensadores da época, Erasmo, More e Maquiavel compartilhavam uma convicção que, sem alguma mudança na natureza humana ou alguma alteração drástica das instituições, a ordem política poderia ser feita para servir aos objetivos humanos desejáveis” (75 s.). Em outras palavras, o mundo inteiro está fora de Deus e neutro para com Ele e, portanto, a boa sociedade pode ser criada fora da salvação de Deus e Sua lei, e em indiferença para com Ele. Nos Estados Unidos, essa é a suposição de cada reunião do Presidente com o Congresso, e é a premissa da política moderna em todos os lugares. Começando com a premissa que existem esferas neutras fora de Deus, o homem termina declarando que Deus é totalmente irrelevante para os homens. Somos informados que essa é uma questão de neutralidade, quer ou não as pessoas creiam em Deus e em Sua lei. Em todo esse pensamento, o homem está agindo sobre a suposição que, ao apertar esse botão de neutralidade intelectual, as alegações de Deus são eliminadas ou desaparecem. Contudo, o fato é que Deus controla todos os botões! E Seu veredicto sobre o mito da neutralidade e todos os seus aderentes pode ser apenas juízo.

Dr. Rousas John Rushdoony(1916-2001)
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto
Extraído de Monergismo.com.br

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