segunda-feira, 16 de março de 2009

Algumas Visões De Como Acontece A Vida Cristã - Parte 3

Visão pentecostal tradicional

Na perspectiva pentecostal clássica, a vida cristã está dividida em dois tempos bem definidos: da conversão à Cristo até o batismo com o Espírito Santo e, do batismo com o Espírito Santo até o fim da vida terrena. De modo geral assume-se que, durante a primeira fase, a vida cristã do discípulo é inócua espiritualmente: ele não está preparado para a “obra de Deus” pois não recebeu ainda o “batismo com fogo”. Insiste-se que ele deve buscar este batismo, também chamado de “segunda benção” (a primeira é a salvação), através do qual obterá poder e a habilidade de falar línguas estranhas, prova incontestável de ter obtido o que buscava. Somente após a dita experiência é que o discípulo estará apto a trabalhar para Deus e sua carreira cristã torna-se-a uma sucessão de vitórias.

Mas será realmente assim?

Ao se ler o Novo Testamento realmente podemos notar, na vida dos discípulos do Senhor Jesus, um antes e um depois, e que o ponto de viragem envolveu algum tipo de experiência com o Espírito Santo. Tais experiências foram reais e eficazes nas vidas deles. Mas será correta a interpretação que o pentecostalismo oferece? O batismo com o Espírito Santo realmente muda a vida de um cristão.

Antes vamos analisar duas palavras gregas. A primeira é “plethõ(πλήθω), que tem o sentido de encher até transbordar, extravasar de maneira a ser visto de fora. Ela é usada em Mt.27:48, Lc.1:15, 1:41, 1:67, 4:28, 5:7, 5:26, 6:11, Jo.19:29, At.2:4, 3:10, 4:8, 4:31, 5:17, 9:17, 13:9, 13:45 e 19:29.

A segunda palavra é “pleroõ” (πληρόω), e tem o mesmo sentido de encher, mas de modo brando, sem rompimento ou extravasamento, muitas vezes sem ser notado externamente. Ela é usada em Lc.2:40, 3:5, Jo.12:3, 16:6, At.2:2, 5:3, 13:52, Rm.1:29, 15:14, II Co.7:4, Ef.3:19, 5:18, Fp.1:11, Cl.1:9 e II Tm.1:4.

Da comparação dos contextos onde cada palavra aparece, fica claro que o batismo com Espírito Santo é um enchimento “plethõ”: repentino, pontual e que tem o propósito de ser um revestimento para alguma tarefa específica ( Lc.24:49). A rigor, ele não interfere no caráter de quem o recebe. Já o enchimento do Espírito, conforme o sentido de “pleroõ” é uma operação gradativa, processual e está intimamente relacionada à vontade da pessoa, interagindo com sua índole.

Confundir caráter com carisma é um pecado antigo da igreja. A história de Sansão é o exemplo clássico: ele tinha muito poder, mas vivia dando vazão à sua sensualidade (Juízes caps.13 a 16). A capacidade de discernir e evitar o pecado é fruto de um caráter transformado, não um dom espiritual. O episódio da serpente atacando a Paulo (At.28:3-6) é uma ótima ilustração: o crente maduro pode até ser atacado pelo “tentador”, mas nele está aperfeiçoado o poder para resistir.

Como vimos, as experiências espirituais visam a capacitação para o ministério. Mas, à medida que o discípulo cresce em entendimento, fé e amor, ele vai se identificando mais e mais com o Espírito Santo que já habita nele (Jo.14:17, 17:22, Ef.1:13), e é isto que santifica o discípulo.

Portanto, a visão de que o batismo com o Espírito Santo faz do discípulo um ser impecável não é bíblica. Não nos serve de padrão. 

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