Em Gênesis lemos a triste história de Caim e sua maldição.
Culpado da morte de seu irmão foi indelevelmente marcado por Deus, passando a
vagar pela Terra de então, carregando por onde fosse o sinal de seu pecado (Gn.4:8-16).
Mais à frente lemos sobre um descendente seu, Lameque,
pioneiro na prática ímpia da poligamia e que, como seu ancestral, matou de
maneira deliberada e movido por uma soberba impressionante (Gn.4:19-24).
O que chama a atenção nesta narrativa é como, no espaço de cinco
gerações, o que era uma maldição transformou-se em motivo de orgulho. Caim passou toda a sua triste existência
portando a marca do desagrado divino, suportando olhares acusadores ou apenas
curiosos, construindo cidades numa tentativa de aliviar o fardo da culpa,
desejando muitas vezes que alguém o matasse como ele matara seu próprio irmão
muito tempo antes. Mas o decreto de Deus fora severo: ninguém deveria se
atrever a tocar em Caim.
Já para seu treta neto Lameque, isto não foi um problema. Na
realidade foi motivo de orgulho. Vemos claramente isto quando ele
arrogantemente declara que matara a um por tê-lo ferido e a outro por tê-lo
pisado, e que a maldição que pesara sobre Caim era setenta vezes maior nele. Aos
seus próprios olhos Lameque era alguém intocável, plenamente justificado em
qualquer coisa que quisesse fazer.
Podemos ver este mesmo fenômeno nitidamente em nossos dias.
Práticas e atitudes que, há poucas gerações, eram imorais,
vergonhosas, doentias, ou mesmo ilegais, hoje são aceitas, toleradas e, em alguns
casos, até incentivadas. Comportamentos viciosos ou patológicos ganham a
proteção da lei e aqueles que os praticam tornam-se intocáveis, como Lameque. Vemos a valorização do vil e o aviltamento do que é nobre e
honrado. As leis perdendo sua força e as autoridades perdendo a honra.
Por tudo isso, podemos mais e mais entender e estar certos
de que um tempo de juízo se aproxima sobre a raça humana. Recordam-nos as terríveis palavras do Senhor Jesus:
“... pois assim como foi nos dias de Noé...”
(Mt.24:37).
Mas a narrativa de Gênesis também estimula a esperança,
quando lemos no capítulo 4 mesmo “... daí se começou a invocar o nome do
Senhor.” (vs.26b).
Se a impiedade pode produzir algo de bom é que ela leva os
fiéis de Deus a um estado de completo inconformismo e santo desespero, que se
traduz numa busca radical por Deus e Sua manifestação. Enos, neto de Adão e
Eva, consciente do mundo que o cercava, decidiu-se por ir contra a cultura de
sua época e passou a invocar o Senhor. Simples assim. Tudo o que Deus quer e espera é ser invocado.
“Perto está o SENHOR de todos que O invocam, de todos que O invocam em
verdade.” – Sl.145:18.
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