
"E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galileia: e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus, e os seus discípulos, para as bodas. E, faltando o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho. Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? ainda não é chegada a minha hora. Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser. E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas, até cima. E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo, E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom, e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. Jesus principiou assim os seus sinais, em Caná da Galileia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. Depois disto, desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos, e ficaram ali não muitos dias." (Jo.2:1-12)
Um casamento era sempre uma ocasião prestigiosa na sociedade judaica, pois nele muitos dos valores éticos que aquele povo cultivava, ganhavam substância e continuidade: a pureza dos noivos, a união de duas tribos ou clãs, a fundação de uma nova família, os filhos que viriam para continuar a herança... . Por isso, uma festa de casamento não podia ser maculada por alguma circunstância triste. Era um evento planejado, aguardado e executado com muito empenho. E assim era porque Deus planejou para que fosse exatamente uma ocasião festiva, na qual Ele mesmo poderia ser visto simbólica e proféticamente como o verdadeiro noivo/marido da nação de Israel, com a qual havia estabelecido uma aliança de amor e aceitação. E nesta festa em especial Ele mesmo, Iahweh, se fazia presente na pessoa de Seu Filho, Yeshua.
Este contexto cultural e circunstancial, ajuda a entender o porque da reação tão brusca de Yeshua para com sua mãe, pois ela involuntárimente agiu como uma porta-voz do Adversário, trazendo uma atmosfera de tristeza e fracasso àquela festa.
Talvez a família do noivo, que geralmente era a responsável pela cerimônia, fosse modesta, sem grandes recursos e que por isso só pode providenciar uma pequena quantidade de vinho. Yeshua, atento a isto decidiu não deixar que um momento tão importante para os dois jovens e para a aquela comunidade fosse prejudicado por um detalhe menor. Ai está a razão de sua gentil repreensão à sua mãe: "Mulher, Que Tenho Eu Contigo?", ou "Porque você vem falar de fracasso e tristeza?". E Yeshua complementa: "Ainda não é chegada a minha hora.".
Esta expressão aparece outras 6 vezes neste evangelho (7:30; 8:20; 12:23; 12:27; 13:1; 17:1), o deixando bem claro que Yeshua estava se referindo à sua morte sacrificial, ao momento em que sobre sua alma seriam jogados todos os pecados dos homens. Apenas então, é que ele se submeteria à dor e ao sofrimento. Mas não agora!
Agora havia uma festa, e uma festa de casamento. Um dos grandes propósitos do Criador para a humanidade estava sendo concretizado. Um rapaz e uma moça estavam tomando posse de grandes promessas para sua jovens vidas. Duas famílias estavam sendo abençoadas com a continuidade de suas linhagens. E o Pai estava sendo honrado. O que poderia ser mais importante agora?
"Não Maria, não é hora de tristeza nem de perda, mas sim de alegria, de celebração, de geração, de multiplicação. A hora virá em que eu terei tristeza, mas não agora! Não hoje!"
Felizmente, Maria entendeu rapidamente e mudou sua atitude. Pela fé ela entendeu que algo grande iria acontecer e instruiu os servos presentes.
Nós igualmente precisamos discernir os tempos do Senhor em nossas vidas. Haverão dias de tristeza, de perda e até de derrotas. Quando vierem, pediremos graça e fortalecimento ao Senhor.
Mas agora, se o tempo é de alegria, não fujamos dela devido a algum contratempo menor, a alguma circunstância momentânea, ou então o Senhor se verá obrigado a nos dizer "que tenho eu contigo?"