
Eu não creio que todos os que escolhem caminhos errados perecem; mas seu resgate consiste em serem colocados de volta no caminho certo. Uma soma errada poder ser corrigida: mas apenas fazendo o caminho de volta até encontrar o erro e continuando a partir deste ponto, nunca simplesmente prosseguindo. O mal pode ser desfeito, mas não pode "desenvolver-se" em bem. O tempo não cura. O encanto deve ser desfeito pouco a pouco, "com palavras murmuradas de trás para frente com o poder de cindir", ou então não será desfeito. Ainda será uma coisa ou outra. Se insistirmo em manter o Inferno ( ou mesmo a Terra), não veremos o Céu; se aceitarmos o Céu, não consequiremos reter nem mesmo a menor e mais ínfima lembrança do Inferno. Acredito que qualquer homem que alcançar o Céu, descobrirá que aquilo que renunciou (mesmo se tiver arrancado seu olho direito) não foi perdido; que a essência do que realmente estava buscando, mesmo seu desejo mais corrompido, estará alí, muito além de suas expectativas, esperando por ele nos "Lugares Altos". Nesse sentido, será verdade para aqueles que completarem a jornada (e para ninguém mais) que o bem é tudo e o Céu está em toda parte. Todavia nós, desta lado da estrada, não devemos antecipar esta visão retrospectiva; se o fizermos, é provavel que sejamos enredados pela falsa e desastrosa idéia de que tudo é bom e de que qualquer lugar é Céu.
Mas e a Terra? - você perguntará. Imagino que, no fim, ninguém irá considera-la um lugar muito diferente. Também acredito que, se a Terra for escolhida em vez do Céu, acabará tendo sido, todo o tempo, apenas uma região do Inferno; mas, se ela estiver subordinada ao Céu, terá sido desde o início uma parte do próprio Céu."
C. S. Lewis - O Grande Abismo, pags. 15-17. Editora Vida, 2008.
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