quinta-feira, 5 de março de 2009

Os Três Homens Que Comandam o Mundo De Seus Túmulos

Afirmo, sem medo de estar errado, que a moderna sociedade ocidental está sólidamente edificada sobre um amplo alicerce ateista. Ao contrário do que querem nos fazer crer os militantes ateus, o ocidente há muito deixou de ser uma civilização de identidade judaico-cristã e se tornou um rascunho do mundo sonhado pelos utopistas: científico, pluralista e sem Deus.

É óbvio que a religião ainda existe e muitas vezes desfrutando de grande visibilidade. Porém, está reduzida a pouco mais do que uma mera manifestação cultural de minorias ou a uma infraestrutura para a realização de obras sociais. O valor da religião, em particular do cristianismo histórico, como um elemento fundamental da existência, foi há muito esquecido.

E é claro que isto não aconteceu da noite para o dia. Foi um processo, ao longo do qual certos absolutos foram lentamente desbastados até sumirem do consciente coletivo. Paralelamente, os lugares vagos foram preenchidos com uma perspectiva totalmente naturalista, sendo que o único absoluto que restou foi o contraditório "não há absolutos!".

E nesta novela épica, da qual todos somos ao mesmo tempo espectadores e atores, três homens merecem especial menção, dado o papel fundamental que tiveram no ennredo. E não é exagero algum afirmar que eles continuam dirigindo o mundo a partir de seus túmulos. Vamos à eles.


Charles Darwin (1809-1882). Célebre naturalista inglês. À partir de sua famosa viagem a bordo do navio de pesquisas "Beagle", desenvolveu o conceito de evolução, identificando a seleção natural como o mecanismo que a natureza usa para aperfeiçoar as espécies. Expôs suas idéias em muitos escritos, sendo o mais conhecido "A Origem das Espécies"(1859). À época o livro foi bem recebido pela nova geração de naturalistas ingleses.

A obra de Darwin é a pedra fundamental sobre a qual a visão evolucionista cresceu e estabeleceu-se a ponto de tornar-se a única cosmovisão aceita. Deus foi solenemente dispensado de Seu papel de criador de todas as coisas, e esta honra foi passada à seleção natural. Desde então, os homens passaram a labutar confiados na "verdade" de que descendem de seres inferiores e que, a rigor, muita pouca coisa os diferencia. Foi uma mudança importante: em pouco mais de uma geração, os homens perderam completamente a dignidade de criaturas semelhantes ao seu criador, sendo rebaixados à condição de bestas-feras. E a evolução, ainda que nunca tenha sido cabalmente provada mediante fatos, foi estabelecida como verdade que não pode ser contestada.

Vamos ao segundo.




Karl Heinrich Marx (1818-1883). Filósofo e militante político de origem alemã. Tido como fundador do comunismo. Intelectual com grande capacidade de análise, fez uma leitura original dos eventos de seu tempo. Testemunhou as grandes mudanças sociais, políticas e econômicas pelas quais a Europa passou durante o século 19, propondo que a História nada mais é do que um interminável conflito de interesses: de um lado os donos do capital, querendo sempre mais lucro; do outro, os trabalhadores braçais, que nada mais tem do que sua prole e sua força para trabalhar. Na exploração destes por aqueles, é que Marx viu o sentido da vida. A História é a história da exploração dos pobres pelos poderosos e da luta dos explorados para se verem livres deste ciclo. Para Marx, a filosofia só tem sentido se puder mudar a realidade que descreve, por isso ele insistia em que os oprimidos deveriam lutar por sua liberdade. É neste processo de libertação que a sociedade avança para níveis superiores de organização.

Com sua doutrina, Marx também contribuiu para a extinção do conceito de Deus na mente coletiva, e não foi por escrever que a "religião é o ópio do povo". Ao afirmar que o processo histórico é um mero conflito de classes, ele desmontou a perspectiva judaico-cristã de um Deus soberano, que controla a História. O homem, que Darwin afirmou ser semelhante aos animais, agora também não tinha qualquer propósito histórico maior, nenhuma esperança sobrenatural. Ele estava no mundo apenas para resistir à exploração.

Darwin destruiu a semelhança de Deus no homem. Marx a soberania de Deus sobre a homem.

E finalmente...


Sigmund Freud (1856-1939). Médico neurologista austríaco. Fundador da psicanálise. Das experiencias que teve trabalhando com outros neurologistas no tratamento, principalmente, da histeria, desenvolveu teorias acerca da psique humana. Em especial, a teoria do inconsciente é tida como sua maior contribuição. Ao longo de sua vida como profissional, foi eleborando outros conceitos: pulsão, complexo, ego/superego. Da sua iniciativa de ouvir os pacientes falarem livremente acerca de sí mesmos, desenvolveu a prática psicanalitíca.

Em seu livro mais famoso ("A Interpretação dos Sonhos"), Freud descreve a mente humana como o local de desejos e instintos primitivos, que são refreados pela consciência, onde estão os valores morais e sociais que recebemos à partir da infância. Algumas vezes, estes pensamentos primitivos rompem a barreira da consciência, manifestando-se como sonhos ou lapsos (falhas de comportamento). Um aspecto muito polêmico na obra de Freud é que ele usava a si mesmo como modelo de pesquisa. Outro ponto questionado é o papel exagerado que ele atribuia à sexualidade.

Enfim, Freud também contribuiu para tornar nossa sociedade o que ela é hoje, pois no mundo freudiano o homem é um ser dominado por pulsões e complexos. A única coisa que o refreia são os valores sociais impostos pela sociedade. Não existe algo como pecado. O que existe são apenas dois princípios vitais que impulsionam a natureza humana: o sexo e a morte. Deus não tem qualquer soberania sobre um ser assim. Aliás, Deus é desnecessário, pois existe a terapia, que se propõe a solucionar os conflitos interiores.

E ai está o mundo dirigido por estes senhores. É ou não é um mundo ateu?

Darwin destruiu a semelhança de Deus no homem. Marx destruiu a soberania de Deus sobre o homem. Freud destruiu a consciência de Deus no homem.


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